
- Izabel, onde está Joaquim? – perguntou o pai, com os olhos serrados.
Dona Izabel fez uma cara de “você bem sabe”. E seu Pedro não preocupou-se em esconder o descontentamento.
- Não sei como posso confiar nesse rapaz. Temos muito trabalho hoje. E ele sabe disso. Mesmo assim, passa a noite na farra e nunca acorda cedo.
Então olhou para Antenor, que estava distante, compenetrado nas notícias do jornal do dia. Pronto para ir para a faculdade.
- Assim que terminar essa maldita faculdade, virá trabalhar comigo, meu filho.
Antenor olhou para o pai, passivamente. Sorriu sem sorrir. Fez que sim com a cabeça. Mas Stella percebeu a contrariedade controlada do rapaz. Sim, ele sentia-se como ela. Então fitou-o com um olhar morno. Ele não percebeu. Estava muito ocupado com a sua raiva contida.
Stella sentia-se aliviada por Joaquim não estar ali. Tomou seu café com tranqüilidade e, depois de arrumar a cozinha e ajudar dona Izabel com a limpeza da casa, saíram às compras. Voltaram apenas na hora do almoço, que havia sido preparado por Izildinha, a única criada daquela casa.
Stella sentou-se tranquilamente à mesa, ao perceber mais uma vez a ausência de Joaquim. Mas logo foi surpreendida por sua voz rouca, fazendo festa para a família.
Sentiu o coração bater mais forte. Pulsou tão alto que chegou a doer. E seu rosto ficou quente. Baixou a cabeça, sem perceber. Mas alguém percebeu. E não gostou.
Seu Pedro repreendeu o filho, que pareceu não dar importância. Ele disfarçava seu sorriso. Como era feliz esse Joaquim. Antenor observava calado. Contido.
Dona Izabel aparentava estar irritada. Adorava o seu caçula. E Stella ardia. Foi surpreendida, então, por uma declaração de seu Pedro.
- No próximo sábado oficializaremos o noivado. – exclamou, de repente, o patriarca.
Stella levantou a cabeça. E sentiu os olhos pesados de Antenor sobre os seus. Era a primeira vez que ele a olhava de verdade.
- Faremos uma pequena recepção. E seus pais virão, menina Stella. Enviei-lhes um telegrama hoje.
Mais uma vez, Stella ficou calada. Queria berrar. Mas nada fez. Sentia-se revoltada, pois iria ficar noiva de um homem que sequer ouvira a voz. E o pior: tratava-se de um maldito covarde, que acata ordens, como ela. Um alguém sem voz. Um alguém sem sal. Na verdade, pensou, um alguém tão ninguém quanto ela.
Então, Joaquim dirigiu-se a ela, tirando-a daqueles pensamentos tão declarados por suas feições contrariadas. Não percebera, mas todos já haviam deixado a mesa. Menos Joaquim, que a fitava sem medo.
- Então, minha menina, não gostou da notícia?
- Não tenho que estar feliz ou triste. Não tenho escolha. Não sou dona de mim.
Ele riu, mas seu olhar era de alento. Parecia gostar dela.
- Você estava linda hoje. Estou feliz por ser você a minha futura esposa.
Stella olhou-o, incrédula. Como??? Ela sempre soube que se casaria com o filho mais velho dos Almeida. Não acreditou na insinuação de Joaquim.
- Sim, minha querida. Fique tranqüila, pois você vai ser minha. Só minha – disse Jaoquim, saindo dali mais uma vez com um sorriso.
Stella não soube o que sentir. Mas começou a esboçar um leve sorriso. “É, a vida pode ser boa, enfim”.